quarta-feira, 12 de junho de 2013

A SOLIDÃO NÃO É UMA POSSIBILIDADE?

Amor e relacionamento versus felicidade
Estar solteiro nunca foi um fato social bem aceito. E na modernidade, são cada vez mais constantes as queixas sobre a solidão. Mas estar só não seria uma opção viável e saudável? Para Schopenhauer, a autossuficiência é condição essencial para a uma vida feliz

Para Schopenhauer, qualquer desejo, seja o de relacionamentos efêmeros ou o de laços duradouros, nasce da falta, e, quando é concretizado, perde o seu valor...

Abnegação, resignação, desapego: palavras centrais para a compreensão correta do que é exaltado por Schopenhauer. Influenciado pelo Budismo, pela Filosofia oriental e, de certa forma, pelo Cristianismo, que teve vários de seus mandamentos e ensinamentos interpretados por ele como espécies de alegorias da negação de vontade, tudo na obra shopenhaueriana, no que concerne à sabedoria, ao que seria mais frutífero para o interior da espécie humana, é repleto, esparge, lança ao ar, direta ou indiretamente, a procura pela tranquilidade, por algum tipo de desligamento, pelo aniquilamento, dentro do possível, de impulsos, desejos.

André Comte-Sponville sobre relacionamentos: “Há casais fiéis e outros não. Pelo menos se entendermos por fidelidade, nesse sentido restrito, o uso exclusivo do corpo do outro. Por que só amaríamos uma pessoa? Por que só desejaríamos uma pessoa? Ser fiel a suas ideias não é ter uma só ideia; nem ser fiel em amizade supõe que tenhamos um só amigo. Fidelidade, nesses domínios, não é exclusividade. Por que deveria ser diferente no amor?”
Tratando do amor, especificamente, ele defendia que, em função da vontade, ambicionamos preservar a espécie. O amor, nessa esteira, seria uma ilusão: “Nenhuma união é tão infeliz quanto esses casamentos por amor – e precisamente pelo fato de que o seu objetivo é a perpetuação da espécie, e não o prazer do indivíduo”. “Só um filósofo pode ser feliz no casamento, e os filósofos não casam”. O verdadeiro mote, por trás da vontade de reproduzir, seria, em suma, a preservação da espécie, e para isso, “cada qual procura um companheiro que vá neutralizar seus defeitos, para que esses não sejam transmitidos”.

Em sintonia com todos esses pontos, há de se lembrar que, para o pensador alemão, qualquer desejo, não excluídos seja o de relacionamentos efêmeros, de satisfazer impulsos imediatamente, ou o da edi ficação de laços mais duradouros, nasce da falta, e, a partir do momento no qual é concretizado, perde o seu valor. “(...) a vida oscila, como um pêndulo, da direita para a esquerda, do sofrimento para o aborrecimento: estes são os dois elementos de que ela é feita, em suma”. A falta geraria dor e desejo; este, na medida em que é alcançado, não satisfaria de modo consistente, duradouro, dando lugar ao tédio que, para Schopenhauer, é ainda pior para o homem do que o estado de ansiedade e sofrimento da falta, quando se quer algo que não se possui. “E a realização nunca satisfaz; nada é tão fatal para um ideal do que a sua realização”. E além disso, “A paixão satisfeita leva com mais frequência à infelicidade do que à felicidade. Porque suas exigências muitas vezes conflitam tanto com o bem-estar pessoal do interessado, que o prejudicam”. Nessa última passagem nota-se que não apenas a fugacidade dos louros colhidos com o atingir de um objetivo aparece como argumento contra a busca dele. O próprio processo de esforço para tal, em que frequentemente temos nosso “bem-estar” ferido, surge como ponto a ser observado, como diligência, digamos, com pouco “custo-benefício”.

O amor... Segundo Sexo - Simone de BEAUVOIR

Achei propício para a data... Vamos discutir o que é amor para homens e mulheres?!

A palavra "amor" não tem o mesmo sentido para um e para o outro sexo, e essa é uma ori­gem dos graves mal-entendidos que os separam. Byron disse, com razão, que o amor é ape­nas uma ocupação na vida do homem, ao passo que é a própria vida da mulher. É a mesma ideia que Nietzsche exprime em A Gaia Ciência:
"A mesma palavra amor" diz ele, "significa de facto duas coisas diferentes para o homem e para a mulher. O que a mulher entende por amor é bastante claro: não é apenas a dedica­ção, é uma doação total de corpo e alma, sem restrição, sem nenhuma consideração pelo que quer que seja. É essa ausência de condição que faz do seu amor uma fé, a única que ela possui. Quanto ao homem, se ele ama uma mulher, trata-se do amor que ele quer dela; por­tanto ele está muito longe de postular para si o mesmo sentimento que para a mulher; se houvesse homens que sentissem também esse desejo de abandono total, podem estar cer­tos, não seriam homens."
Há homens que em certos momentos de sua existência podem ter sido amantes apaixona­dos, mas não há um único que possamos definir como "um grande apaixonado" em seus arrebatamentos mais violentos, eles jamais abdicam totalmente; mesmo se caem de joelhos diante da amada, o que eles desejam ainda é possuí-la, anexá-la; permanecer no centro de suas vidas, como sujeitos soberanos; a mulher amada é apenas um valor entre outros; eles querem integrá-la na sua existência, não absorver a sua existência inteira nela. Para a mu­lher, ao contrário, o amor é uma submissão total em proveito de um senhor."
Simone de BEAUVOIR, Lamoureuse, Lê deuxième sexe, Folio-Essais, Paris, Gallimard, t. 11, cap. II, pp. 376-7.

Especial Dia dos Namorados, ou não?!

     Acabando com as doces ilusões... dia dos namorados é 14 de fevereiro dia de São Valentim! Para quem não sabe amanhã que é dia de Santo Antonio, o santo casamenteiro, agora fala sério... que chororo hoje?! 



     Para discutir racionalmente o amor coisa que ninguém faz... trago no blog um texto do filósofo alemão SCHOPENHAUER (1788-1860) – O FILÓSOFO DO HUMANISMO. Introduziu o budismo e o pensamento indiano na metafísica alemã. Para ele, o mundo não passava de uma representação, uma síntese entre o objeto e a consciência humana. O que havia de real era a vontade, irracional e insaciável, por isso causa de todo sofrimento. Apesar do pensamento, apontar saídas para as dores do mundo: a contemplação da arte, a compaixão e, sobretudo, a anulação da vontade, uma fuga para o nada.


Livros:
A arte de ter Razão.
O mundo como Vontade e Representação.
Metafísica do Belo.
Fragmentos para a História da Filosofia.



Amor Desmistificado

O sentimento de um homem apaixonado produz por vezes efeitos cómicos ou trágicos, porque em ambos os casos, é dominado pelo espírito da espécie que o domina ao ponto de o arrancar a si próprio; os seus actos não correspondem à sua individualidade. Isto explica, nos níveis superiores do amor, essa natureza tão poética e sublimadora que caracteriza os seus pensamentos, essa elevação transcendente e hiperfísica, que parece fazê-lo afastar da finalidade meramente física do seu amor. É porque o impelem então o génio da espécie e os seus interesses superiores. 
Recebeu a missão de iniciar uma série indefinida de gerações dotadas de determinadas características e constituídas por certos elementos que só se podem encontrar num único pai e numa única mãe; só essa união pode dar existência à geração determinada que a objectivação da vontade expressamente exige. O sentimento que o amante tem de agir em circunstâncias de semelhantes transcendência, eleva-o de tal modo sobre as coisas terrestres e mesmo acima de si próprio, e tranforma-lhe os desejos físicos numa aparência de tal modo suprasensível, que o amor é um acontecimento poético, mesmo na existência do homem mais prosaico, o que o faz cair por vezes em ridículo.    

Arthur Schopenhauer, in 'Metafísica do Amor' 


     Para começar, ele dizia que o amor não é um assunto banal que não devemos vê-lo como distração de assuntos mais sérios ou adultos. Não é por acaso que se trata de um sentimento tão avassalador, capaz de tomar conta de nossa vida e de todos os momentos de nosso dia. Ele diz que não devemos nos culpar tanto pelo estado de desespero e obsessão em que entramos se o amor fracassa. Ficar surpreso com a dor da rejeição é ignorar o quanto de entrega a aceitação exigiria.

    Criamos histórias de amor para nós mesmo, imaginamos que nos apaixonaremos por um parceiro que nos fará felizes. Mas Schopenhauer via isso de maneira diferente. Para ele, nós nos submetemos a telefonemas ansiosos e jantares caríssimos, a luz de velas por uma única razão: o impulso biológico para perpetuar a espécie. Ele o chamava de “impulso de vida”.  Nada na vida é mais importante que o amor, porque o que está em jogo é a sobrevivência da espécie”. O amor é uma tática da natureza para nos levar a ter filhos. Por mais que gostemos de nos imaginar como seres românticos somos todos, basicamente, escravos do impulso de vida. 
      Schopenhauer procurou falar de um tema muito pouco abordado pela Filosofia “O AMOR”. Ele tentou definir o amor como a manifestação de um desejo inconsciente de perpetuar a espécie. Pois conscientemente ninguém suportaria carregar o fardo pesado da “vontade de vida” (nome que Schopenhauer atribuiu ao desejo instintivo de perpetuar a espécie). Ninguém quer admitir que todas aquelas juras de amor não passam de um artifício natural para garantir a sobrevivência da espécie, isso nos reduz a simples marionetes ou a criaturas programadas para reproduzir. Schopenhauer defende que este desejo não é exclusivo dos seres humanos, e que está presente em todos os seres vivos. 

     Para Schopenhauer o amor romântico é uma invenção cristã. A vontade de vida vai trabalhar da seguinte maneira, ela aproxima duas pessoas de maneira que uma vai encontrar na outra aquela característica que não possui. Por exemplo, pessoas altas dificilmente irão ter interesse por uma pessoa da mesma estatura, os louros gostam das morenas, cada homem desejará ardentemente e preferirá as criaturas mais belas, porque nestas está impresso o tipo mais puro da espécie.

     Portanto, a busca zelosa e apaixonada pela beleza, não se refere ao gosto pessoal de quem procede, mas ao fim verdadeiro, o novo ser, que tem que conservar o tipo da espécie da maneira mais pura possível. Os homens são inclinados a inconstância no amor e a mulher a constância. O amor do homem diminui sensivelmente depois de satisfeito, isso não significa que não irá ter interesse por outras mulheres, se trata apenas de um artifício natural para que o homem procure outras parceiras. Isso explica o sentimento de decepção que muitos experimentam depois que o gozo é obtido. 
     O que está em jogo é a permanência da espécie no planeta. É dessa maneira que a natureza seleciona as características dos indivíduos que vão nascer. Tendo assim total controle do processo. Schopenhauer teve vários relacionamentos amorosos, mas nunca casou, falava que quando pessoas casam irão fazer tudo para se odiarem.


Fonte: http://pt.shvoong.com/social-sciences/1771756-amor-segundo-schopenhauer/#ixzz2W0rWwdjc O amor segundo Schopenhauer